terça-feira, 13 de abril de 2010

Desabafo de um Técnico em Segurança do Trabalho

     Esta carta foi enviada por um Técnico em Segurança do Trabalho do interior de São Paulo a uma revista voltada para Segurança do Trabalho no ano de 2008. Retrata a dura tarefa desta categoria num dia a dia em uma empresa que não possui a cultura de proteção a seus colaboradores. Cultura essa amplamente praticada pelas empresas de sucesso e considerada como diferencial na oferta de seus produtos e serviços. O autor pede que seu nome seja mantido em sigilo por motivos óbvios, pode servir de porta–voz para muitos profissionais que estão hoje espalhados pelo país:

"Que profissão é esta de técnico de segurança? Você se arrebenta de pregar no deserto. Só te ouvem depois da desgraça consumada, mas aí é para xingar-te e te ofender. Pedem esclarecimentos, relatórios, fichas de investigação, análises, gráficos, desenhos, estatísticas, etc. Mas só depois de ocorrer o acidente.

Mecânicos e eletricistas criam verdadeiras armadilhas dentro de uma fabrica. Pensam na manutenção, nos reparos, nas gambiarras (provisórias) de determinados equipamentos rapidamente, pois a produção não pode parar. Mas não sei se por negligência, preguiça ou burrice esquecem do bem estar do homem.

Você conversa, dialoga para arrumar estas verdadeiras arapucas que eles criam e só ouve reclamações do tipo ' não tenho gente, estou com acúmulo de serviços. Isso é problema da Segurança'. Você vai falar com o supervisor e ele diz: ' Nós vamos arrumar, tenha calma. Quando der um tempinho....'. Haja tempo e paciência.

Você se desespera e envia memorando e CI’s à gerencia e a todos os envolvidos. Aí é um Deus nos acuda. Dizem que não é assim que se resolve o problema, que é preciso conversar, dialogar, não criar inimizades, que temos que ir devagarzinho. Ou então: Negocie, tente mudar estas mentes retrogradas. Fale, pregue, oriente, conscientize de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

Salários de manutenção e produção sempre estão em acepção. Para eles tem política salarial, enquadramento de função, promoções, melhorias de quadro. Mas para o técnico de segurança o que determina é o piso da categoria profissional, que está muito aquém de um torneiro ou mecânico de manutenção.

Tô cheio moçada. Quando que isso vai mudar? Estou cansado de ouvir: 'se na tua empresa não te dão apoio, cai fora'. Mas ir para onde, fazer o que nesse mar de desemprego? Serviço de Segurança para ter bom desempenho e sucesso necessita do apoio de todos, mas principalmente das gerências. Não só apoio e colaboração incondicional. O negocio é vestir a camisa. De que adianta apoio verbal entre quatro paredes, mas desprestigio no resto da fábrica. Acabamos sendo um João Ninguém, que só reivindica e reclama e gera despesas com novos EPIs.

Treinamentos, congressos, feiras 'se quiser, vá. Mas por sua conta, se vire'. Enquanto isto, para outras chefias e técnicos, faz até cursos em países do primeiro mundo, tudo por conta do empregador. O Técnico de Segurança nunca é convidado para nada. Só para resolver problemas é lembrado.

Nesta área tem muito blá-blá-blá, mas na hora H todos pulam fora e dizem que isto não é comigo. 'Isto é problema do técnico de Segurança'. Não é não. É problema de todos nós."

Uma pequena homenagem para estes profissionais que todos os dias, silenciosamente, colaboram para uma melhor qualidade de vida dos nossos trabalhadores. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário